Além do centenário mais comemorado deste ano, o da Semana de Arte Moderna, um outro passou despercebido até agora: o de um dos principais patrimônios históricos do Rio de Janeiro, um palacete inaugurado em setembro de 1922 como Hotel Sete de Setembro, passando por Escola de Enfermagem, Casa do Estudante Universitário – CEU, agora Fórum de Ciência e Cultura (UFRJ).
Para comemorar o centenário do prédio, o Coletivo CEU realizará a primeira edição presencial pós pandemia do Sarau Balcão Poético no local, com o tema “100 Anos do prédio da CEU & um brinde à poesia Afro-brasileira”, aqui representada por Carolina Maria de Jesus e Solano Trindade, com a participação de poetas e artistas multilíngues, além de exposição paralela de vídeos, instalações, lançamentos de livros, no dia 18 deste mês (sexta), a partir das 18h.
Participantes
Salgado Maranhão e Margareth Castanheiro (em vídeo) farão breve relato sobre sua passagem pela CEU e recitarão poemas autorais; A arquiteta Maria Helena Hermes falará sobre o prédio e sua arquitetura;
Macedo Griot lançará o livro “Samba de Griot”, um tratado poético afrocentrado, de olhar e protagonismo preto; Cícera Maria Conceição lançará a biografia “Memórias de um Sambista” do compositor Edeor de Paula (autor do samba “Os Sertões” da Escola de Samba Em Cima da Hora; A ativista e educadora financeira Patrícia Marins colocará foco no empoderamento da mulher preta brasileira;
Os poetas Jerônimo Campos, Sérgio Alves, Sol de Paula, Dei Ribas, Jurema Araújo, Mano Melo, Rogê Ferreira, Edmilson Borret, Severino Honorato, Ary Pimentel ecoarão reflexões do feminino no cotidiano e toda sua força poético-cordelista-performática-afrobrasileira.
Sala Paralela
Exposição de livros, Instalações e vídeos complementarão o evento. O Coletivo CEU exibirá “Antonio Jannuzzi, o Construtor”, de J. Bosco Gomes e Marcus Neme; “A Universalidade da CEU, de Domingos M. Oliveira conta a trajetória da Casa do Estudante Universitário”; a TV Escolinha Dimenor Cidadão, de Mauro Neme, trará a realidade do trabalho educacional e esportivo com crianças da comunidade do Fallet e adjacências.
Marcus Neme exporá os videoartes videoinstalações, fotos assemblages e animações em GIFs focados na ação do tempo e na relação homem/espaço-público (“Percepção Vetorial”, “Férreo – ponto de força”, “Protocolo”); Também serão exibidos os vídeos Kamikaza (“Pandemia (seu Jair)”/ ”Tempo Fechado” / “Soldados RastaFire” / “Diáspora”), de Mário Molina e Paulo Cidmil; e “Miserere e meia”, de Edmilson Borret.
História do Prédio
O prédio foi o primeiro hotel de alto padrão na cidade, construído em estilo neoclássico pelo imigrante italiano Antonio Jannuzzi para hospedar visitantes VIPs nas comemorações do Centenário da Independência. O palacete resiste até hoje, precariamente, em meio aos luxuosos edifícios residenciais, na Avenida Rui Barbosa,762, entre Flamengo e Botafogo.
O arquiteto Antonio Jannuzzi trabalhou com recursos integrais da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, o conjunto original ocupava um terreno de 7.300 m₂, dos quais 4.140 m₂ de área construída. Tinha 243 quartos com telefones, amplos salões, restaurante, cabines para os hóspedes na praia em frente. A obra custou 6.733 contos de réis, uma fortuna na época.
Mas por falta de hóspedes suficientes, após as comemorações do Centenário, o Sete de Setembro virou um elefante branco já em dezembro de 1922. Depois de um malogrado leilão e um arrendamento malsucedido, a Prefeitura o repassou para o governo federal, que o incorporou ao patrimônio da União, e ali o Departamento Nacional de Saúde Pública fundou uma maternidade e o Hospital Infantil Arthur Bernardes.
O palacete foi então transferido para a Universidade do Brasil (atual UFRJ) que em agosto de 1926 instalou ali a Escola de Enfermagem Anna Nery, funcionando em regime de internato, com alunas residindo nos quartos. Em agosto de 1973, quando a escola já havia sido transferida para outro local, o prédio foi cedido, em caráter precário, à Casa do Estudante Universitário (CEU). A partir daí, o palacete se transformou em uma das principais referências nos meios estudantis, culturais e políticos da cidade durante a ditadura e contribuiu para o processo de redemocratização, de onde emergiram diversos artistas, lideranças, políticos, empresários, professores, entre outros.
Além da sua função principal, que era alojar estudantes de diferentes universidades e procedentes de várias regiões do país, a CEU criou nas dependências ociosas do prédio um cineclube e um teatro que apresentavam peças e shows musicais toda semana, além de saraus Balcão Poético, cursos de capoeira e debates sobre cultura, imprensa alternativa e a conjuntura política, em parceria com movimentos sociais como Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA), Liberdade e Luta – Libelu, Tortura Nunca Mais, Brasil Mulher, Teatro Tá na Rua e outros grupos.
Graças à resistência dos estudantes da CEU diante das constantes ameaças de despejo, o palacete foi preservado e finalmente tombado em 1989 pelo governo de Leonel de Moura Brizola, evitando-se a demolição de um patrimônio histórico que representa uma parte importante da memória da cidade.
A CEU deixou de existir em 1995 e a restauração do palacete foi iniciada e interrompida diversas vezes, mas nunca concluída. O estado atual do imóvel requer cuidados e atenção. Para permanência do mesmo, é fundamental uma mobilização da UFRJ em parceria com o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para que a restauração seja retomada e o imóvel disponibilizado para uso mais amplo da sociedade. (Pesquisa e texto original de Jason Tércio)
PROGRAMAÇÃO SARAU BALCÃO POÉTICO
18h – Abertura da Sala Paralela (Salão 3)
Exposição de livros, Instalação, Vídeos: Salgado Maranhão (poeta); Margareth Castanheiro (poeta); Coletivo CEU: “Antonio Jannuzzi, o Construtor” – J. Bosco Gomes e Marcus Neme; “A Universalidade da CEU” – Domingos M. Oliveira; TV Escolinha Di Menor Cidadão – Mauro Neme; “Percepção Vetorial”, “Férreo – ponto de força”, “Protocolo’ – Marcus Neme; Kamikaza: “Pandemia (seu Jair)”/ “Tempo Fechado”/ “Soldados RastaFire”/ “Diáspora”- Mário Molina e Paulo Cidmil; “Miserere e meia” – Edmilson Borret.
18h30 – Apresentação do Sarau Balcão Poético (Salão 1)
1° Bloco
Jerônimo Campos, Sérgio Alves, Sol de Paula,
Dei Ribas;
2° Bloco
Macedo Griot (Lançamento do livro Samba de Griot), Jurema Araújo, Cícera Maria Conceição – Lançamento do livro: Memórias de um Sambista – biografia do compositor do samba Os Sertões, Edeor de Paula;
Homenagem aos 100 anos do prédio histórico da CEU
Salgado Maranhão (vídeo), Margareth Castanheiro (vídeo),
Maria Helena Hermes (arquiteta da UFRJ);
3° Bloco
Mano Melo, Rogê Ferreira, Edmilson Borret;
4° Bloco
Patrícia Marins – Homenagem ao Empoderamento da Mulher Preta Brasileira,
Severino Honorato, Ary Pimentel.
SERVIÇO
LOCAL – Avenida Rui Barbosa,762, Flamengo
DIA – 18/11/2022
HORA – 18h
ENTRADA FRANCA
Produção e Contato:
21-985024341 Mauro Neme
21- 986585241 Dei Ribas
21-965123298 João Bosco Gomes.
E-mail: coletivoceu@gmail.com
Expediente:
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