Fascinante. Assim foi abertura da OffFlip Transviral (16ª edição) conduzida por um grupo especial de mulheres empoderadas, transcendentais e curadoras das artes – tecnológicas, literárias, gastronômicas, ecopedagógicas, cênicas e musicais, reverenciando outras duas grandes mulheres, cada uma ao seu tempo, a escritora Carolina Maria de Jesus e a cidadã paratiense Maria Auxiliadora Dabella, analisando o contexto sócio ambiental geral e local, nesta era Covid-19, com vistas à superação da crise. A roda de conversa, mediada por Lia Capovilla, diretora do Núcleo Paraty, teve a participação de Belita Cermelli (diretora do Programa Educativo da Flip, do Núcleo Paraty), Maria Rita (atriz – Grupo Teatro de Roda), Aline Gaglia (secretária do DLIS- Agenda 21 de Paraty) e Karina Braz (cantora e compositora caiçara).
Belita Cermelli lembrou da sua nostalgia ao se dar conta do mês em que tradicionalmente acontece a Flip e da emoção ao saber que nesse momento a Offflip está segurando o carro, colocando conteúdo no ar, da satisfação, por Paraty, pela OffFlip, pela Flip e da inexpicável alegria ao o convite para participar da abertura.
Falou da evolução do educativo da Flip, que focou na criança desde o início para a formação de leitores, mediadores de leitura, educadores futuros, hoje presentes neste universo, com a Flipinha, a Flipzona, as bibliotecas comunitárias, etc, que podem tomar decisões importantes sobre Paraty, “as sementinhas estavam na primeira Flip e foi ganhando forma com o tempo”. Concluiu acrescentando que esse ano a Flip, como a OffFlip tem o desafio de realizar um evento online e participativo.
Maria Rita falou das atividades do Grupo Teatro de Roda no evento, das pesquisas de linguagem que desenvolvem, uma voltada para o teatro popular brasileiro, com as peça ‘Samba-lê-lê’, ‘O belo rei’, ‘A linda rosa’ em que o público participa brincando de roda; a outra é o projeto Clássicos do Teatro (criado pelo ator Mariozinho Telles), com ‘Romeu e Julieta’, de Shakespeare, há 14 anos no repertório da companhia e as Comédias de Costumes, de Arthur Azevedo. Comentou sobre a peça ‘Entre nós’, que transformaram em filme e que traduziu as dificuldades, a descoberta das ferramentas online e o ato de se reinventar com o isolamento social provocado pela pandemia do Covid-19, que para ela transformou-se numa nova linguagem.
Aline Gaglia é bióloga, dissertou dos desafios com as questões ambientais com que trabalha. Disse que a ida para Paraty lhe proporcionou a primeira mudança de percepção de mundo, e a segunda, o parto natural domiciliar do filho que a conectaram visceralmente com a natureza. Afirmou que ao mudar sua percepção pessoal, começa a se corresponsabilizar pelo seu propósito no mundo, no município, com a família e consigo mesma e que, a partir daí passou a fazer trabalhos regenerativos para a cidade, para a comunidade com que convive, como a Agenda 21 de Paraty, a qual define como uma ferramenta para se juntar e organizar esforços para atravessar a crise planetária, civilizatória, a crise institucional que cresce no país e o colapso profundo da ecologia. Salientou que só se consegue isso com uma mudança interna e um trabalho comunitário para ir mais longe e mais rápido. Observou que no momento trabalha a territorialização da Agenda 2030, abrindo o diálogo para construir juntos para os próximos anos, envolver os próximos candidatos nesta discussão para encontrar o leme.
Na mediação, Lia Capovilla apontou que o principal desafio é fazer com que todas as instâncias municipais consigam se encontrar, consigam se ouvir e consigam se entender. Ela pontuou ações de Agenda 21 iniciadas nos anos 1990 com a Eco TV, da qual era repórter e, posteriormente, com o Conselho Municipal de Associações de Moradores – Comamp que tornaram-se espaços de debate, provocando o diálogo da população com as instituições públicas, salientando que com o desmanche do Comamp esse espaço de debate encolheu e hoje o desafio maior é recuperá-lo para o desenvolvimento de um plano que seja executado e respeitado.
Karina Braz acentuou a necessidade do espírito de unidade e união, fortalecimento dos movimentos com as ações de cada um, mesmo com os trabalhos em casa, devido à pandemia. Para ela, a OffFlip é a sua casa, pois a carreira musical passou a se desenvolver a partir da participação na edição de 2016, quando se apresentou pela primeira vez com uma banda, tocou canções autorais que a influenciam, levando-a a resgatar suas raízes da cultura caiçara. Comentou que foi infectada pelo Covid-19 e, durante a quarentena para tratamento, criou um novo projeto musical que ganhará forma, após a pandemia. Disse que lançou um projeto virtual, chamado ‘Tempo’, que traça um panorama do que vivemos atualmente. Falou do EP ‘Maré cheia’, do trabalho realizado com o Educativo da Flip com crianças do bairro Ponta Grossa, no estúdio do Núcleo de Mídia, gravando um “single”, em que homenageia dona Mariana de Jesus Barbosa, “‘uma caiçara muito valorosa”. A música é uma “ciranda forrozada”, com a qual se apresentaram na Casa Azul e na tenda da Flip na Praça da Matriz.
Ao final apresentou a música ‘Costa do Sol’, do projeto ‘Maré Cheia’, lembrando que Carolina Maria de Jesus, na década de1950, se referia ao sol como o “astro rei” e essa música fala exatamente do “astro rei”, nascida de uma experiência que ela teve na Costa do Sol.