Carlos Fernando S. Andrade
Certamente as coisas que acontecem no mundo tecnológico digital andam rápidas, muito rápidas. Rapidíssimas! Nem compensa comparar uma carta enviada pelo correio com um e-mail. Mesmo assim vamos lá. Para usar a palavra “BRASIL” a memória de um computador precisa de 5 bytes, ou seja, um byte para cada letra ou caractere. É claro que numa carta, as vírgulas, pontos, exclamação etc. também contam. Então se 1 byte = 1 caractere, e se 1 byte precisa de 8 dígitos binários (bit) para ser escrito, um caractere usa, portanto, 8 bits. E assim no mundo digital a palavra BRASIL usa 40 bits (5×8).
A velocidade de transmissão de um texto pode assim ser calculada em bits por hora, por minuto ou por segundo (bps). Tudo isso para dizer que nos idos de 1700 o governador Fernão Carrilho do Estado do Maranhão mandou a carta régia proibindo a criação de gado numa faixa de 10 léguas da costa, e quando essa carta chegou, depois de um mês, a informação cravou uma velocidade de 0,03bps. Já quando foi proibido o tráfico negreiro no Brasil em 1850, a Lei Eusébio de Queirós foi enviada pelo telégrafo, cravando velocidade 100 vezes maior, 3bps. Pouco depois de eu ter nascido, lá pelos idos de 1960 a conexão dos computadores já permitia cravar velocidades de 300bps. Como hoje as coisas são maiores, usa-se os prefixos Kilo, Mega, Giga e Tera, cada um 1000 vezes maior que o outro. E aí vem a surpresa de que a internet tem agora um novo recorde mundial de velocidade: 44,2 Tbps. A marca foi atingida por um grupo de pesquisadores das universidades de Monash, Swinburne e RMIT, na Austrália[1]. E para que serve isso? Bem, você poderia baixar 50 filmes em Blu-ray Ultra HD, com 100 gigabytes (GB) cada, em apenas um segundo. E é claro que você levaria muitas semanas (ou meses?) para assistir isso tudo.
Um espanto! Muita informação fluindo muito rápido, baixar 5TB de som e imagem em um segundo! (50 filmes de 100GB cada). Se fosse um filme de 2 horas em Full HD teria só 4GB. Games muito pesados costumam ter 50GB. O DNA humano cabe em 1,6GB apenas. Nosso cérebro armazena 10GB eletricamente e 100TB química e biologicamente. E tudo isso é informação.
Bits e Bytes formam ao final informação nos computadores. Quando Arthur Clark escreveu “3001 A Odisseia Final” em 1997, ele cita ao final que o “estado mental total de um ser humano de 100 anos, com sua memória perfeita, poderia ser representado por 1000TB (1 Petabite 1015)” em uma máquina. Coisa que naquela época poderia ser enviada por fibra óptica em questão de minutos[2]. Imagina hoje!
Causa espanto! E mais ainda, causa receio e medo de que certas coisas no mundo digital (como a IA), escapem do controle humano, que nem se sabe ao certo quem deveria controlar, e como. Quando Arthur C. Clarke escreveu a ‘2001 Uma Odisseia no Espaço’ em 1968, ele arriscava prever que em 2001 o computador HAL 9000 da nave já conseguia ser autônomo e se rebelar. Ainda não, que se saiba.
Ótimo se a IA for sempre benéfica. Mas será? Qual é o risco?
Quem se preocupa muito com isso é o Max Tegmark autor do livro Vida 3.0. Tanto se preocupou que criou em 2014 o Instituto Futuro da Vida, alegando que a tecnologia e a IA ou iriam “dar à vida poder de florescer como nunca (??) ou de se autodestruir”. Convenceu muitos cientistas do risco da IA não vir a ser benéfica e juntou vários deles em uma Conferência em Porto Rico em 2015, e depois em outra Conferência em Asilomar, um balneário perto de San José na Califórnia em 2017. Gente de peso e dinheiro como Elon Musk, Cofundador da Neuralink, OpenAI, e Zip2, dono do Twiter com patrimônio líquido de US$ 225 bilhões (2023) e Larry Page fundador da Google e Alphabet Inc. de patrimônio de US$ 114 bilhões (2023). Eles estão com cabelo e otimistas.
Sem otimismo e sem cabelo, o diplomata austríaco Volker Türk, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos alerta: Cuidado com a IA generativa! >> “No próximo ano, estão previstas eleições em mais de 70 países, abrangendo metade da população mundial. Estas eleições serão as primeiras na era da IA generativa amplamente disponível. Existem riscos óbvios de uma propaganda e desinformação invulgarmente poderosas serem produzidas à escala por um conjunto crescente de atores” (6/12/2023). E dois dias antes, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, deu também declaração sobre a preocupação com a utilização de IA nas eleições brasileiras. Moraes defendeu a cassação e inelegibilidade de políticos que a utilizarem de forma fraudulenta para impactar o resultado do pleito. Veremos. E faremos novas reflexões.
[2] Scheffer, L.K., 1994. Machine Intelligence, the Cost of Interstellar Travel and Fermi’s Paradox. Quarterly Jour. Royal Astronomical Soc., 35(2):157-175.
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