Estimulados pelo vídeo – “Mata Atlântica”- Fim das Queimadas, realizado pela ECO TV em 1998 – a partir de uma idealização do paratiense Sílvio Veloso, em parceria com a Cooperativa Nativa, com apoio da Flora Paraty e instituições públicas e privadas, iniciando-se o Projeto de Arborização da Rodovia Rio-Santos, BR-101. Em 2007, o programa ganhou peso com o programa Carbono Compensado Lepac – Unicamp (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Artes e Ciências). Ao todo, foram plantadas e consolidadas 20 mil árvores nos acostamentos da Rodovia Rio – Santos, no município de Paraty (RJ).
Nesses quase 20 anos, sem queimadas nesse período, 500 hectares de Mata Atlântica se autorregeneraram, gerando 1 milhão de árvores, proporcionando o sequestro de carbono, numa média de 100t a 200 toneladas por hectare, evitando a desertificação do meio ambiente. Conforme avaliação do idealizador do projeto, Sílvio Velloso, as técnicas de redução de queimadas, a recuperação de solo, a conectividade de fragmentos e Sistemas Agroflorestais (SAF) empregadas nestes quase 20 anos por este projeto socioambiental para recuperação da cobertura florestal, mostraram que o melhor parceiro é a árvore.
ODS da agenda 2030
Para a Região da Costa Verde, preservar a Mata Atlântica, além de ser uma prioridade apontada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS da Agenda 2030, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, é um dos requisitos indispensáveis para a consolidação do título de Patrimônio Mundial Cultura e Biodiversidade, concedido pela UNESCO a Paraty, Ilha Grande e a todos os municípios limítrofes com parte do Parque Nacional da Serra da Bocaina.
Conforme os ODS da Agenda 2030, a preservação da Mata Atlântica garante:
ODS 2 – Fertilidade do solo para produção de alimentos e plantas medicinais;
ODS 6 – O não assoreamento, e mantém o fluxo dos mananciais hídricos com água potável para o abastecimento dos municípios que fazem parte do mosaico deste bioma;
ODS 15 – Proteção das escarpas e encostas das serras (evitando catástrofes), equilíbrio climático; belezas cênicas, que proporcionam o lazer, o ecoturismo, geração de renda e qualidade de vida, além da preservação de um patrimônio histórico e cultural incalculável.
Novo documentário: Mata Atlântica – o Fim das Queimadas
Comemorando 20 anos deste bem-sucedido projeto, Silvio Velloso está propondo uma articulação institucional e empresarial, para a produção de um vídeo documentário – Mata Atlântica – o Fim das Queimadas, e uma edição compacta para ser exibido nas escolas com o objetivo de:
- Mostrar a construção de um projeto socioambiental com o resgate de cobertura florestal, utilizando técnicas de redução de queimadas, recuperação de solo, conectividade de fragmentos e Sistemas Agroflorestais (SAF), em situações de difícil manejo, como a de ravinas profundas (enormes porções de terra erodidas pela chuva, pela falta de cobertura vegetal).
- Divulgar estas ações para o resto deste bioma (em torno de 50 mil quilômetros de estrada), inspirando outros a realizarem mais ações de resgate ambiental;
- Criar expectativas e pressão para o estabelecimento de políticas públicas de combate às queimadas;
“Se não deixarmos queimar, é possível sonharmos com a meta de restauração de 7 milhões de hectares da Mata Atlântica a um custo mínimo”.
Retrospectivas históricas no documentário ‘Queimada na Mata Atlântica’
“O arvoredo é tanto e tamanho e tão basto e de tanta qualidade de folhagem que não se pode calcular”, atestava Pero Vaz de Caminha na sua histórica carta ao Rei de Portugal (…)”, em 1500, fazendo “a primeira descrição oficial do Brasil uma descrição da floresta tropical pluvial da Mata Atlântica”, preenchendo “a maior parte do litoral que viria a ser o litoral brasileiro”, avançando “nos contrafortes da serra em direção ao interior”.
A exuberância e a riqueza dessas terras exóticas e os povos que aqui habitavam eram uma fonte de riquezas a ser dominada e vencida pelos colonizadores portugueses, espanhóis franceses e holandeses, para suprir a necessidade histórica da Europa, cuja ambição e ignorância da época marcaram drasticamente o destino da floresta tropical até os dias atuais, depois de 500 anos de exploração.
A imagem bucólica daqueles tempos transformou-se em um xadrez com clarões de, gramíneas, desertificações, aumento populacional, urbanizações desordenados, somados à especulação imobiliária e econômica e o desequilíbrio ambiental que, na Região da Costa Verde, culminou com a realização do vídeo ‘Queimada na Mata’ Atlântica, entre 1998 e 1999, com o “objetivo de alertar a população em geral, autoridades e empresariado sobre a necessidade de proteção e recuperação da natureza”, em defesa deste imenso patrimônio e do futuro comum.
A Mata Atlântica, considerada uma das regiões mais ricas em biodiversidade, “um mosaico de ecossistemas ao mesmo tempo condicionados e condicionadores da Geografia e do clima” e um dos biomas mais ameaçados do planeta – hoje só resta 8,5% da vegetação original (dados da Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe), poucas nações indígenas, reduzidos povos quilombolas e comunidades tradicionais que pedem socorro e proteção à mata como forma de garantir a estabilidade geológica dessas áreas, para evitar grandes catástrofes, já registradas onde a floresta foi suprimida, o que gera implicações socioeconômicas e culturais graves.
Queimadas – o principal inimigo da Mata Atlântica
“Depois de uma queimada, a própria chuva que deveria regar e fecundar o meio ambiente ajuda a destruí-lo. O sol incide sobre a terra desprotegida queimando e compactando o chão, a chuva carrega os nutrientes e prepara o terreno para mais um ataque dos raios solares, a temperatura sobe rapidamente e a evaporação desta vez faz rachar a terra ainda mais seca e compacta.” “O fogo pode dar início a processos de erosão incontroláveis e até a desertificação de vastas áreas (…) altera totalmente o processo evolutivo do ecossistema, levando a uma degradação ambiental cada vez maior com o passar do tempo. O equilíbrio e manutenção destas cidades dependem da floresta…
“…As árvores nativas são reguladores dos mananciais hídricos, formam uma capa protetora do solo que dá estrutura ao terreno e o transforma numa esponja que absorve a maior parte da água das chuvas, protegendo as encostas e evitando que a enxurrada chegue aos muitos córregos e rios, carregando matéria nutritiva com o substrato à própria vida vegetal. Esta flora nativa, adaptada dos milhares de anos de interação com o meio ambiente, por sua vez, dá suporte à fauna, alimentando e abrigando desde pequenos insetos até mamíferos de porte respeitáveis.”
Comunhão da ideia
Gleison Rocha (sociólogo e apresentador) – “Hoje o que resta deste patrimônio natural tem valor biologicamente insubstituível e economicamente relevante” (…) “com indústria do Turismo e as crescentes necessidades de água potável e novas matérias-primas para as indústrias de diversos segmentos, preservar esse patrimônio comum não é uma questão de cultura, de poder econômico ou político, é uma necessidade e uma questão de consciência”.
D. João de Orleans e Bragança – “O português já começou aportar e, para ter segurança, a devastação começou, com medo do índio, com medo da onça… Os portugueses precisavam fabricar navios precisava de boas madeiras… quando falo do português, quero dizer o colonizador. Acho que em todas as colônias foi a mesma tragédia.”
D. Joãozinho de Orleans e Bragança – “A Mata Atlântica é mais rica que a floresta amazônica em biodiversidade, espécimes e quantidades de vida, por isso acho que essa é a maior razão da preservação.” (…) saber que dela, que já foi grande parte da costa brasileira, não existe mais quase nada, existe perto de 8% da Mata Atlântica e, por isso, é tão protegida e tão ameaçada. Em segundo, que vocês têm uma das florestas mais ameaçadas do mundo depois da floresta de Madagascar na África, só que os trechos da Mata Atlântica, na costa, se caracterizam por estar perto de quase 80% da população brasileira.”
Desta ideia comungam paratienses e não paratienses, parlamentares, profissionais das áreas ambiental, educacional, social e turística, entre outras, que a veem “como exercício de cidadania ativa e inteligente”.
Roberto Bonfim (Empresário) – A forma que o caiçara tinha de marcar, delimitar a área dele era: “tem tantas braças pra frente até onde a vista alcança”… Ele pegava a área que estava próxima dele e queimava, marcava a fogo, era a sua propriedade, era a forma que tinha para demarcar. A área com mata era “suja”. Aquela área queimada, que estava “limpa”, era a área valorizada, e com um rendimento muito pequeno também.
Xico Graziano (Engenheiro Agrônomo) – Antigamente, quando você via uma mata, a primeira ideia que vinha na cabeça é que tinha que derrubar e tacar fogo, fazer dali agricultura, que era era tido como um progresso. Hoje há uma mudança completa na consciência, de que a mata não pode mais ser derrubada: em primeiro lugar, porque não precisa derrubar mais nada para alimentar nossa população, hoje há árera suficiente para produzir os alimentos necessários; em segundo lugar, e mais importante, é que se descobriu que a biodiversidade da própria mata, principalmente, da Mata Atlântica, é que pode criar soluções para o futuro. Então, o que temos que fazer, ao invés de derrubar, é preservar, principalmente nas regiões que não têm nenhuma vocação agrícola, como é a região do litoral, onde tem muita escarpa, uma topografia muito acidentada, um solo muito frágil, um solo em que, se derruba, ele se degrada rapidamente, de tal forma que a preservação da Mata Atlântica é que vai dar um passo para o futuro.
Sílvia Chadda (Engª Agrônoma) – Nas áreas reflorestadas há mais tempo, a gente já começa a observar uma série de mudanças: as gramíneas estão sumindo das áreas; uma série de outras espécies começam a colonizar a área de espécies nativas da mata, da região; o número de passarinhos aumenta muito o trânsito de sementes. Essas espécies que a gente planta, com cerca de 2 anos já atingem cinco metros de altura; nas áreas mais antigas, com cinco anos, já temos árvores com mais de dez metros de altura.
Fernando Gabeira (ex-deputado federal) – De repente começaram a queimar e as queimadas chegaram a uma dimensão jamais vista. No Mato Grosso do Sul, o Ibama decidiue aprender um pouco a lição: temos uma seca prevista e temos queimadas anualmente, feitas nesse período. Vamos proibir as queimadas (…); em Roraima tivemos a oportunidade de pensar um pouco sobre queimadas de uma maneira diferente. Eu acreditava, naquele momento, que bastava acabar com as queimadas, desde que houvesse um bom programa de Educação Ambiental. Por exemplo, no programa de Educação Ambiental, mostrando tudo que se passa quando se queima. Eu percebi que o ‘buraco é um pouco mais embaixo’. É claro que o programa de Educação Ambiental é fundamental, mas percebi que muitas pessoas diziam o seguinte: “Olha, eu queimo pra plantar, eu planto pra comer. Se eu não queimar eu
não planto; se não plantar, eu não como”. Qual a solução que tem que dar para isso? Aí é o que se colocava para nós, realmente, a busca de soluções práticas e objetivas que estejam que sejam compatíveis com nosso programa de Educação Ambiental.
2020 – Aumento dos focos de incêndios
A temporada de queimadas no Brasil – geralmente de maio/junho a setembro/outubro, em 2020 já registrou aumento percentual dos focos de incêndio no Pampa, Pantanal e Mata Atlântica, (dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. De 1º de janeiro a 1 º de junho deste ano a Mata Atlântica teve um considerável aumento de 44%.