Homenagem ao Maestro Matias Capovilla

Os editores do Jornal Folha do Litoral, com os corações partidos pela partida do querido maestro e amigo Matias Capovilla, em pausa de semibreve, abraçam a dor da sua mãe, dona Anna, sua irmã, Lia Capovilla, sua companheira, Wilza – Dedé Nunes, seu filho Teo e família.
Nas ressurgências das memórias, seremos eternamente gratos pela sua competente generosidade em compor e dirigir a trilha sonora do documentário a “Universalidade da CEU – Histórias da Casa do Estudante Universitário” e os videoclipes “Jaz Jazz, jaz off” e “De cor e salteado” para o movimento OFFflip.
Em sua homenagem cantaremos em Ad libitum regido por você:
Buscar a verdade
É dançar no compasso da estrada
Na harmonia da caminhada
Com as personas tão sonhadas
No batuque da chegada
E na valsa da despedida
Pois voltaremos iguais ou em outras formas!

Homenagem de sua irmã Lia Capovilla

Tive um parceiro incondicional e inquieto durante toda a vida. O músico, compositor e arranjador Matias Capovilla, era um irmão querido, e apesar de ser mais novo, me ensinou e continua me ensinando tudo. Também era um bom aluno, sabia ouvir. Só que não foi um aluno convencional, nunca admitiu fazer algo convencional. Nunca frequentou um curso de música, e na escola convencional ele não funcionava.
A nossa iniciação musical foi durante os anos 70, quando crianças, na sala de casa com a tv e o toca discos. Mas ele estava mais preparado do que eu para absorver o caldo artístico daquele momento.
Educou os ouvidos com o cardápio sonoro oferecido pelos canais abertos de televisão e com as coleções de fascículos da Editora Abril, que vinham com um LP dentro. Por esses meios, e numa época em que a internet era impensável, ele teve acesso ao melhor da música produzida na Europa, Américas e Brasil. E essa foi a formação dele.
Naquele período, a editora abril lançou três coleções que foram fundamentais para a formação de público e plateia dos anos 70: Nova História da Música Brasileira – escrita por Tárik de Souza e José Ramos Tinhorão no momento exato em que a MPB ia produzindo seu melhor momento – Gigantes do
Jazz e Mestres da Música, estas vinham importadas e traduzidas pela Abril, trazendo a lista completa dos compositores clássicos e contemporâneos de todos os tempos.
Na tv de casa, as trilhas sonoras das séries, filmes e desenhos animados americanos chamavam muito a nossa atenção. Eram peças para big bands e orquestras. Ao longo da década, a sonoridade híbrida – envolvendo o popular (jazz, mambo, samba, bossa) e a música clássica – impressionou de
forma irreversível nossos ouvidos. Os violinos faziam a base romântica ou dramática, guarnecidos pelos naipes de sopros com amplo espectro de acordes e dinâmicas.
Os maestros Henry Mancini (A Pantera Cor de Rosa), Lalo Schifrin (Missão Impossível), Nelson Riddle (Batman, a série), John Williams (Tubarão) para não falar de outros tão importantes quanto, deixaram suas marcas na nossa memória musical. Eles vinham das escolas dos clássicos, onde Debussy e Stravinsky tinham sido suas fontes mais inspiradoras, pois refletiam o momento
energético que vivemos durante todo aquele século. Esses grandes mestres do cinema e tv não eram impermeáveis ao som que brotava dos guetos pobres das Américas (EUA, Caribe e Brasil), e foram os responsáveis por popularizar ainda mais todos esses ritmos.
Esse caldo cheio de energia, liberdade e criatividade também reciclou os maestros e arranjadores do rádio brasileiro, que depois migraram para o cinema e televisão produzindo as trilhas de programas,
novelas e publicidade que pertencem hoje à história da nossa cultura. Radamés Gnattali, Rogério Duprat, Tom Jobim, Laércio de Freitas, também souberam manusear com originalidade esta fórmula de incorporar o clássico à fonte riquíssima da música popular brasileira, e esse foi o ambiente protéico do Matias. Ele soube ouvir tudo o que a tv da sala e a banca de jornal da esquina estavam oferecendo e tudo o que as indústrias fonográficas e cinematográficas do século 20 puderam vender para o Brasil naquele momento. Essas referências profundas e de qualidade inegável são a marca do seu trabalho, cheio de refinamento e nada convencional. Quando ouço qualquer música hoje não
consigo dissociar o som dos instrumentos de sua pessoa, desse criador inquieto e apaixonado que foi o meu irmão, Matias.
Com muito amor.
Lia Capovilla

Nos últimos seis anos, Matias Capovilla atuou como diretor musical do programa “Cesta Básica” e da Rádio Núcleo Paraty e, como professor na Casa da Cultura, produziu uma série de trabalhos e encontros que possibilitaram uma efervescente integração de músicos de Paraty, entre eles, Sexta Básica, Sarau Poético Samba; Sexta Básica – Fórum da Paz – Guaranis – MBYA, Banda sem Destino, Oficina do Som & Jovens Talentos de Paraty.
Matias compôs a trilha sonora do Filme “Nervo de Aço”, dirigido por seu pai, Maurice Capovilla.
“Atuou como instrumentista, arranjador produtor e compositor nas bandas Sossega Leão (1983), Hard Bop & Café (Free Jazz Festival de São Paulo de 1991) e Orquestra Heartbreakers (1987-2000) com oito discos gravados, participações em festivais na França, em Portugal e Cuba. Integrou a banda Havana Brasil. Fez arranjos para Cauby Peixoto, Zé Miguel Wisnik, Péricles Cavalcanti, Elba Ramalho, Rita Lee, Bocato e Orquestra Experimental de Repertório com o Maestro Jamil Maluf (SP).



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7 respostas para Homenagem ao Maestro Matias Capovilla

  1. fldom diz:

    Marcia Flores, A ressurgência da memórias de Matias nos traduz um belo sentimento para a arte de viver. “Voltaremos iguais ou em outras formas”.
    Abraços!

  2. Marcial Flores diz:

    Matias foi meu colega de escola no “Colégio Equipe”… finalzinho da década de 70. Sempre o mesmo grupo para fazer os trabalhos (eu, Matias, Amauri e Carlos Luiz). Tempo bom. Organizamos duas peças de teatro que ficaram na história do colégio…uma sobre o recém lançado filme (na época) STAR WARS, onde eu fiz o papel de Ben Kenobi…e outra peça inspirada no filme KING KONG (onde nós construímos uma “mão de macaco gigante” com armação de arames e lençóis, e pintamos de marron, ideia DELE, é claro…). Um cara de criatividade imensa, e que era chamado por nós de “O rei do Durepóxi” (pois fazia de tudo com essa massa cinzenta). Atacamos também de editores e repórteres do jornal do colégio, chamado “A Marreta” (onde obviamente criticávamos os professores mais chatos). Vai em paz, meu distante -mas inesquecível- amigo.

  3. Celso Nogueira diz:

    Lia, só fiquei sabendo hoje, um ano depois, que o Matias partiu. Perdemos contato faz tempo, mas nunca deixei de sentir um enorme carinho e admiração pelo menino que conheci e pelo maestro que se tornou. Além de acompanhar o início da carreira do Matias, devo a ele ter conhecido o Maurice, a quem admirava como cineasta, e depois você, quando colaborou com minha revista Igarati. Apenas me viro e o passante já é somente bruma, diz um haicai. Mas a lembrança afetiva nos coloca na mesma foto coletiva, para sempre. Agora, o livro.

  4. Alegria e tristeza. Pois como disse o poeta “voltaremos iguais ou em outras formas”, mas compartilhando emoções! Sentimentos são confusos mesmo. Misturados e complexos. Grande parceiro Matias! Toque seu trombone no set de metais da big band celestial !!

  5. Flávio de Souza diz:

    Coração partido ao saber que Matias Capovilla não está mais entre nós. Uma amizade recente mas de muito respeito e admiração pelo tamanho talento, construída no Núcleo de Mídias. Matias colaborou com a trilha sonora do documentário “Eco TV, a Televisão de Paraty”, que resultou no meu TCC na faculdade de jornalismo. Gratidão sempre Matias Capovilla! Que Deus o tenha na Paz Celestial!

  6. fldom diz:

    Muitas saudades!

  7. Marcia diz:

    Linda homenagem. Nosso querido Matias deixa muitas saudades.
    Seja onde for, Rogério e Matias encantaram almas com a beleza de suas artes.

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