Originária das ilhas do Pacífico, a canade- açúcar, chegou à Europa com os Cruzados. Os descobridores portugueses, precisando colonizar as terras d’além-mar, achadas por Cabral em 1500, optaram pela plantação extensiva da cana e produção de açúcar para suprir um mercado mundial carente daquele produto – até então raro e vendido somente em
farmácias. Nasciam o engenho, a casa grande e a senzala.
Aaguardente, subproduto da cana de açúcar, sempre esteve ligada ao Brasil, desde seus primórdios. Segundo Gilberto Freyre, a aguardente começou a fazer parte da dieta escrava muito antes de se tornar seu vício, sendo servida logo de manhã cedo com pirão de farinha e frutas: dava sustança pra lide.
Os primeiros engenhos de que se tem notícia no Brasil Colônia foram construídos em 1533 e 1541, na Capitania de São Vicente, vizinha a Paraty. Embora não existam referências escritas sobre o efetivo início da produção da bebida na Colônia ou em Paraty, Luiz da Câmara Cascudo opina que a aguardente brasileira nasceu por volta de fins do século
XVI.
A História da cachaça confunde-se com a história de Paraty, acredita-se que, a partir de 1600, a bebida tenha começado a ser alambicada em terras paratienses. E, mesmo sem ter sido pioneira na produção da aguardente de cana, Paraty – “quer pelas suas terras, quer pelas suas águas ou lenhas” ou ainda pelos segredos da própria alambicagem – foi a mais importante região produtora de cachaça no Brasil Colônia.
É interessante destacar que a abertura oficial do Caminho do Ouro em 21 de Agosto de 1660, pelo Governador Salvador Correia de Sá e o movimento revolucionário, os Alevantados, para a criação da Vila de Paraty em 1660, coincide com o período da proibição da produção e comércio de aguardente no Brasil pelo Rei de Portugal, por conta da concorrência que fazia à bagaceira e aos vinhos portugueses, tendo como consequência a Revolta da Cachaça.
Nesta revolta, os proprietários de aguardente depuseram o Governador do Rio de Janeiro e assumiram o governo da província. O povo de Paraty, aproveitando-se da desordem então reinante, liderados por Domingos Gonçalves de Abreu e proprietários de alambiques locais, se fizeram vila por vontade própria sem autorização real, porém o município foi reconhecido por Carta Régia de Dom Afonso VI, em 28 de fevereiro de 1667. Com relação ao Caminho do Ouro, podemos vislumbrar através de um Brasão dourado: a Coroa Portuguesa, os Caminhos da Serra, os Tropeiros e a Caravela que representam o porto do Caminho do Ouro, traduzindo a importância estratégica de Paraty frente ao processo pioneiro de colonização do território brasileiro, em especial as rotas terrestres e marítimas que também difundiram a cachaça de Paraty.
Segundo Monsenhor Pizarro e outros historiadores, a cachaça produzida em Paraty fez tanta fama pela sua qualidade, que custava mais caro que todas as demais comercializadas no país; e sua importância sócio-econômica foi tão grande desde 1700, que acabou emprestando seu próprio nome (Paraty) como sinônimo de aguardente até pelo menos meados do século XX. Com o isolamento comercial da cidade, decorrente da abertura da estrada de ferro D. Pedro II ligando Rio a São Paulo, em 1870, de 150 alambiques existentes, Paraty chega ao final do século XX com apenas três.
A partir da criação do Festival da Pinga e, posteriormente, da Associação de Produtores e amigos da Cachaça de Paraty, com apoio do Sebrae e do Ministério da Agricultura, a Cachaça de Paraty chega ao século 21 com um padrão de qualidade e fama inigualáveis, que resultou na recente Certificação Geográfica de procedência em 2007 que, proclamando a sua origem a distingue de outras cachaças, em função das características e modo de fazer, conferindo-lhe um diferencial de mercado, que consolida a origem da cachaça como um produto do Brasil.
Por fim, o Festival da Cachaça de Paraty, em sua trigésima Quarta edição, não só cumpre o seu objetivo de resgatar e difundir a cachaça de Paraty, como também a cultura, o Caminho do Ouro e os produtos rurais e pesqueiros que hoje são base da Gastronomia Sustentável de Paraty.
Fontes de consulta : “Paraty Estudante” , Diuner Mello e “Folha do Litoral” : artigo de Renan Wanderley
Esse texto inspirou a música Paraty é o meu peixe! de Francisco Fernado e Domingos Oliveira, interpretado por Marilde Rodrigues – voz, Andres Gassner- Violão, Agostinho Pernambuco – Percussão
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