Caminhos para a qualidade do Sistama de Saúde de Paraty

Estamos de volta com a segunda edição do programa “A Visão de um Repórter Caolho — A caminhada de um olho cego procurando por outros”, que busca enxergar além da luz no fim do túnel, tocando nas zonas de sombra do nosso sistema público de saúde.

Diante das recentes reclamações sobre o atendimento no Hospital Municipal Hugo Miranda, administrado pela organização social Viva Rio, esta matéria propõe uma leitura crítica e propositiva sobre o sistema de saúde de Paraty. O objetivo é evitar que se repitam os mesmos erros — previsíveis e crônicos — denunciados há mais de duas décadas por este jornal.

Na década de 1990, Paraty apresentava um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Foi nesse cenário que, em 2001, nasceu a Estratégia de Saúde da Família (ESF) no município, por meio de uma articulação entre o Jornal Folha do Litoral Costa Verde, o movimento comunitário COMAMP e o Fórum DLIS/Agenda 2030 de Paraty. A proposta inovadora utilizou o método de Gerenciamento Integrado com Planejamento Participativo, reconhecido por instituições como Unicamp, UFRJ, Sebrae, FGV, PNUMA e Universidade de Quebec.

Mais de 20 anos depois, mesmo com avanços importantes — como um hospital bem equipado, Unidades de ESF atuantes e o CIS Patitiba — dois problemas estruturais continuam comprometendo o sistema: a ausência de um planejamento estratégico integrado e a precariedade na informatização da atenção básica.

Essas deficiências impactam principalmente o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde, da Vigilância Sanitária e Ambiental e das equipes das Unidades de Saúde da Família. Sem dados atualizados, o sistema perde eficiência, o acompanhamento dos usuários se fragiliza, as equipes se desmotivam e o hospital acaba sobrecarregado com demandas que deveriam ser resolvidas na base.

O alerta que ecoa é claro: quando falta planejamento, sobra sofrimento.

Como usuário do SUS, durante a pandemia de COVID-19, vivi isso na pele. Ao buscar atendimento na USF do Sertão do Taquari, fui informado de que, embora houvesse estrutura, faltava um profissional para autorizar o teste. Fui, com minha família e dezenas de outros moradores, direcionado ao hospital municipal. A cena era previsível: filas, aglomeração, poucos médicos e muita sobrecarga.

Embora tenhamos sido bem atendidos — com empenho e dignidade por parte da equipe —, o episódio revelou mais uma vez que o problema não é apenas de estrutura, mas de sistema. De gestão. De falta de integração entre os dados, os serviços e os territórios.

A informatização plena do SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica, conectada ao aplicativo e-SUS Território e ao DataSUS, é hoje prioridade estratégica. Com essa integração, seria possível produzir informações em tempo real, acompanhar com precisão as condições de saúde das famílias, orientar recursos e evitar que casos simples se tornem urgências hospitalares. Mais que tecnologia, trata-se de inteligência sanitária e respeito ao cidadão.

Com mais de 26 anos de atuação em mobilização social, planejamento e comunicação comunitária, o Jornal Folha do Litoral Costa Verde renova seu compromisso com a saúde pública e coloca-se, mais uma vez, à disposição do Conselho Municipal de Saúde, da Secretaria de Saúde e das comunidades de Paraty para colaborar com a retomada de um processo estratégico de reestruturação da rede de saúde, à luz da experiência local e dos princípios do SUS.

E você, leitora e leitor?
Conhece sua Unidade de Saúde da Família?
Sabe quem é o seu agente comunitário, o enfermeiro, o médico?
De 1 a 5, como você avalia o SUS em Paraty?
Comente, compartilhe e fortaleça a construção de um SUS que funcione — não só no papel, mas no território.

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Editor Flitoral

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