O clima no passado – Mudanças climáticas (2)

Teodoro Isnard Ribeiro de Almeida

O texto anterior abordou a questão das escalas de tempo, a humana e a do nosso planeta, e algo das variações do nível do mar. Agora vamos ver as variações climáticas do passado distante (mesmo para a escala de tempo da Terra) e como a vida foi afetada por elas.

– Os mais antigos registros de vida que conhecemos datam de 3,7 bilhões de anos são de micróbios que viviam em colônias formando umas estruturas chamadas estromatólitos. Como há evidências de que há 4,4 bilhões já havia continentes e água líquida, ou seja, temperaturas abaixo de 100oC, pode ser que a vida seja mais antiga.

– E como era o clima naquela época?

– O clima não sei, mas a atmosfera não tinha oxigênio… A vida continuou escassa e tempos depois o planeta sofreu três glaciações gigantescas que duraram milhões de anos de 720 a 660 milhões de anos (Ma), de 645 a 640 Ma e cerca de 580 Ma atrás. Com um certo exagero pensava-se que havia gelo até no equador, daí terem apelidado esses períodos de glaciações “snowball” ou bola de neve. Mas hoje sabe-se que não era tanto assim.

– Havia vida nesses períodos?

– Sim, havia mesmo organismos mais complexos, como algas, em partes de mar aberto. Depois dessa última glaciação há uma explosão de vida e biodiversidade no planeta. A ciência considera que a partir de 541 Ma começa o “Fanerozoico”, período em que a vida é fartamente visível em nosso planeta.

– E então o clima do planeta ficou mais calmo?

– Hum, mais ou menos. Olha na figura seguinte (1) como houve eventos terríveis no Fanerozoico, climas quentíssimos e gelados.

– Mas… depois que a vida se implantou para valer o clima ficou essa bagunça? Como os animais e as plantas sobreviveram? 250 Ma atrás a temperatura média do planeta estava uns 18oC acima do que está hoje! Os órgãos internacionais falam da tragédia que seria ultrapassar 2oC da temperatura em meados do século XIX, imagina 18oC acima… ou 16oC abaixo em 440Ma!

– Naqueles pontos marcados com “!” a ciência detectou importante perda da biodiversidade. São grandes extinções em massa. A mais conhecida é a mais recente, que acabou com muitos animais e plantas, incluindo todas as espécies de dinossauros. Foi ocasionada pela queda de um meteorito com uns 10 km de diâmetro há 66,04 Ma formando uma cratera de 180 km de diâmetro chamada Chicxulub, no México.

– Foi a maior extinção em massa?

– Não! A maior foi a por volta de 250 Ma, quando 95% das espécies marinhas e 70% das espécies de vertebrados terrestre desapareceram. A ciência detectou cinco grandes extinções em massa. E propõe estarmos vivendo a sexta. Mais para a frente a gente vai discutir essa sexta extinção que está em curso, a extinção do Antropoceno.

– As mudanças climáticas atuais já estão extinguindo espécies?

– Não é o clima, mas a ação da humanidade. Por isso vamos deixar para depois. Vamos discutir agora o clima nos últimos 800.000 anos, que é bem conhecido e é uma gangorra!

– Antropoceno… antropo quer dizer humano. Efeitos antrópicos são efeitos do homem. Antropoceno seria uma nova era geológica influenciada pelo homem?

– Exato! A figura abaixo (2) mostra que existe uma quase perfeita correlação entre a concentração de CO2 na atmosfera e a temperatura global nos últimos 800.000 anos.

– Puxa, sobe o CO2 e sobe a temperatura. Mas… se eu entendi esse gráfico a gente vê que a Terra foi muito mais fria que agora! Ao menos nos últimos 800.000 anos poucas vezes a temperatura foi tão alta. O tracejado é a temperatura atual e então há uns 20.000 anos a temperatura na Antártida era uns 10oC abaixo do que agora. E o mar estava 125 metros abaixo do nível atual!

– Isso mesmo. E a gente vê também que os interglaciais são bem mais curtos que as glaciações. A exceção não são as glaciações, são os interglaciais!

1 Modificado de Scotese, CR at al. Earth-Science Review 215, (2021)

2 Modificado de Landais, A. La Recherche 573 (2023)

Teodoro Isnard Ribeiro de Almeida
Mestre em Sensoriamento Remoto no INPE, Doutor em Ciências (Geologia) na USP, Pós- doutorado na Universidade Paul Sabatier (França). Professor associado aposentado na USP.

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