“Voltaremos iguais, em outras formas…”
E não é que a parceria gestor versus jornalista amadureceu para uma parceria de violão e flauta que não para de se reinventar!?
Uma amizade que brota da admiração e que floresce e frutifica em arte, onde dialogam, cantam e dançam a Geopoética e a Autopoiesis.
Pois bem, dessa parceria, um novo fruto desponta, em retratos e relatos daquilo que é motivo e recompensa: o estradar “com par trilhado” pelas “paisagens sertanejas de confins bem brasileiros”.
As colunas que trarão nossos parques nacionais para as páginas do Folha, começa com o Parque Nacional da Serra da Canastra, aniversariante cinquentão do mês de abril.
“Espalhe o olhar, porque essa vista é vasta!
Percorre os campos dessa imensidão…
Mas abre o peito, só olhar não basta…
Mais do que os olhos, abre o coração!”
Localizado no sudeste de Minas Gerais, o imenso Chapadão da Canastra abriga a nascente histórica do rio São Francisco, cujas santas águas regam os áridos sertões brasileiros, ao longo de seus mais de 2.800km de jornada. O “Velho Chico”, como carinhosamente é chamado pelo povo brasileiro, percorre os campos limpos do Cerrado da Canastra, propiciando enclaves de Mata Atlântica e regando os cenários oníricos onde ainda se pode ver com relativa facilidade algumas das grandes estrelas de nossa fauna, como o veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). O mais célebre morador do parque nacional, entretanto, é o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), uma das mais ameaçadas aves do planeta, que encontra nas cristalinas águas da Canastra, do Chico, de seus afluentes e dos outros cursos, abrigo para seus ciclos vitais…
Espalhe o olhar, porque essa vista é vasta!
Percorre os campos dessa imensidão…
Mas abre o peito, só olhar não basta…
Mais do que os olhos, abre o coração!
Te entregue inteiro, a esse céu mineiro
Veja o campeiro pastando esse chão
Capim em semente, o caboclinho sente
E em revoada chegam sempre ao chapadão
É tanto encanto, que eis aqui meu canto
Humildemente em ode vem pra te louvar
Reverenciando a nascente do Santo
Que bebe essas minas pro sertão banhar
Mina preciosa que oferece a vida
Campina florida onde reina o guará
Tanto privilégio pra quem te visita
E envaidecido digo o Santo é meu xará
Ribeirão pequeno, logo se agiganta
E na Casca d’Anta vem se debruçar
Salto imponente, que é mera semente
Da imensidão que é seu viajar
Alto do Rolinho, Queda Rasga Canga
Salto Rio Morto, Morro do Carvão
Tem Lavra e Lavrinha, tem Curral de Pedra
Orquídeas e Chinela… não se conta, não!
Parque Nacional da Serra da Canastra
Lar de jóias raras, pato-mergulhão
Se proteger do fogo a beleza se alastra
E o tamanduá-bandeira cumpre a sua missão
Espalhe os sentidos abra as tuas asas
Voe alto como voa o urubu-rei
Parque Nacional da Serra da Canastra
Se há outro mais bonito isso eu não sei!
Analista ambiental do ICMBio, Chico Livino foi gestor do Parque Nacional da Serra da Bocaina por quase 10 anos (2008/2017). Poeta, desenhista e compositor, além de arquiteto por formação e mestre em Ecoturismo e Conservação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Sua pesquisa se vale da Geopoética para estudar a relação entre a Arte e as áreas protegidas, e propõe a promoção do encantamento como uma política pública para a conservação. Com base no seu histórico pelas paisagens sertanejas de confins bem brasileiros.
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Venha minha querida !
muito bom!
Destacou a necessidade de preservação de tantos espaços como este, através de um histórico poético e de tamanha beleza. Maravilhoso texto !!!
Dá vontade de correr pras Serras da Canastra e da Bocaina w ficar por la, ouvindo e sentindo os sons e cheiros das florestas!